Opióides são substâncias derivadas do ópio e utilizadas (na
medicina) para o tratamento de dor crônica. O opióide mais conhecido é a
morfina e é dela que deriva a droga opióide mais utilizada, a heroína. O ópio é
utilizado desde o período neolítico como calmante, sonífero, veneno ou para
fins recreativos. Há diversas menções ao seu uso e suas funções em civilizações
remotas e até na bíblia. Somente no século II dC é que o ópio começou a ser
utilizado no tratamento da dor e que tomou-se conhecimento das consequências do
abuso dessa substância. Atualmente, derivados do ópio (naturais e sintéticos)
são muito utilizados no tratamento de dor pós cirúrgica, dor crônica, câncer,
etc. O problema começa quando, além de não ser 100% eficiente, alguns pacientes
desenvolvem tolerância, alergia ou dependência dessa droga. Mesmo em pacientes
que não apresentam nenhum desses problemas, a droga pode trazer efeitos
colaterais bem sérios.
Papaver somniferum - ópio é extraído dos frutos imaturos.
Um estudo de 2012 (1) mostrou que pacientes que
receberam altas doses de opiáceos para tratamento de dores nas costas foram os
que mais utilizaram os serviços de emergência médica. Além disso, eles tinham
maior número de prescrições, o que poderia indicar a não resolução do problema
com opiáceos. Já outro trabalho de 2016 (2), mostra o uso prolongado de
opióides até 6 meses após cirurgias de joelho e quadril mesmo depois da melhora
da dor. Segundo a autora, o fator mais decisivo para continuação do uso era o
uso pré-operatório de morfina. Até 80% dos pacientes que já tomavam morfina
antes da cirurgia continuaram tomando mesmo após a recuperação, mostrando uma
possível dependência da droga.
Em 2015, um estudo mostrou que era
possível manejar a dependência de opióides e, assim, prevenir que pacientes
continuem aumentando mais e mais as doses (3). Nesse estudo, eles descobriram uma
proteína (CXCL 1) que é responsável pela tolerância a opioídes. Tanto em
humanos, quanto em ratos, essa proteína era mais expressa quanto maior a dose
de opióide administrada. Após essa fase, os autores conseguiram bloquear a
expressão dessa proteína em ratos e verificaram que a eficácia do opióide se
manteve mesmo após altas doses e tratamentos prolongados.
Já em 2017, foi publicado um estudo na PNAS onde foi isolada uma
substância tão eficaz quanto opióides para o tratamento da dor e que utiliza
uma via diferente deste (4). A substância em questão é uma molécula,
utilizada como veneno, produzida por um pequeno gastrópode que vive no mar do
Caribe (Conus regius). O composto,
chamado Rg1A, é capaz de neutralizar a dor utilizando uma via de sinalização
diferente da dos opióides. Além disso, o efeito é tão duradouro que mesmo
depois da substância ser excretada do corpo, ela continua
fazendo efeito por até 72 horas, sugerindo que o composto tenha um
efeito restaurativo em alguns componentes do sistema nervoso. A esperança dos
autores é que essa substância possa ser utilizada em pessoas tolerantes,
alérgicas ou que por alguma razão não possam utilizar opióides. Poucas são as
drogas conhecidas que trabalham por uma via de sinalização diferente dos
opióides e a maioria delas não é muito efetiva. A próxima fase de estudos será
realizar testes clínicos para determinar a efetividade e segurança dessa substância.
1. Amy M. Kobus, David H. Smith, Benjamin J.
Morasco, Eric S. Johnson, Xiuhai Yang, Amanda F. Petrik, Richard A. Deyo. Correlates
of Higher-Dose Opioid Medication Use for Low Back Pain in Primary Care. The Journal of Pain, 2012; 13 (11): 1131 DOI: 10.1016/j.jpain.2012.09.003.
2. Jenna Goesling,
Stephanie E. Moser, Bilal Zaidi, Afton L. Hassett, Paul Hilliard, Brian
Hallstrom, Daniel J. Clauw, Chad M. Brummett. Trends and predictors of opioid use
after total knee and total hip arthroplasty. PAIN, 2016;
157 (6): 1259.
3.
Chih-Peng Lin, Kai-Hsiang Kang, Tzu-Hung Lin,
Ming-Yueh Wu, Houng-Chi Liou, Woei-Jer Chuang, Wei-Zen Sun, Wen-Mei Fu. Role of Spinal CXCL1 (GROα) in Opioid Tolerance. Anesthesiology, 2014; 1 DOI: 10.1097/ALN.0000000000000523.
4.
Haylie
K. Romero et al. Inhibition of α9α10 nicotinic acetylcholine receptors prevents
chemotherapy-induced neuropathic pain. PNAS,
February 2017 DOI: 10.1073/pnas.1621433114