segunda-feira, 31 de julho de 2017

Links para saber mais

     
Jessica Hua - Professora da Universidade de Binghamton
Jessica Hua, professora assistente da Universidade de Binghamton (NY), conduziu um estudo multidisciplinar que analisou dados de evolução, ecologia e toxicologia de anfíbios. Jessica, juntamente com outros pesquisadores, descobriram que anfíbios são capazes de desenvolver tolerância a pesticidas utilizados na agricultura, mas essa tolerância vem com um preço muito alto. A tolerância a pesticidas torna os anfíbios mais susceptíveis a parasitas. Essa susceptibilidade é muito perigosa, pois já existem dados mostrando queda em populações de anfíbios causada por parasitas.

Wood Frog (sapo da floresta) - espécie modelo utilizada no estudo.
Artigo completo:                                                                                http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/eva.12500/abstract;jsessionid=5F240AC4229085F9BB0335145B7A1CCD.f02t01

Outras fontes:
www.sciencedaily.com/releases/2017/07/170717151043.htm

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Os superpoderes da sua microbiota intestinal

     O que a sua microbiota intestinal (conhecida antigamente como flora intestinal) tem a ver com seu humor, o desenvolvimento do seu cérebro ou sua imunidade? A reposta é: muito. Há algum tempo atrás não havia muito interesse nas bactérias que povoam nosso intestino, apesar de saber que elas trazem benefícios para a nossa saúde como auxiliares na síntese de algumas proteínas, absorção de nutrientes e ainda limitam ou impedem o crescimento de patógenos perigosos para nossa saúde. Mas de uns três anos pra cá, a microbiota virou assunto da moda e atualmente existem um sem fim de estudos que demonstram que ela está envolvida com uma série de funções no nosso organismo.

Microbiota e suas emoções
     Pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram que as bactérias do intestino podem interagir com regiões do cérebro responsáveis pelo humor e certos tipos de comportamento. Os pesquisadores estudaram amostras fecais de 40 mulheres cruzando informações do perfil de bactérias do intestino com respostas a estímulos cerebrais. Através da composição da microbiota, eles dividiram essas mulheres em dois grupos: um grupo com predominância de Bacteroides (33 mulheres) e outro com predominância de Prevotella (7 mulheres). O grupo com maior predominância de Bacteroides mostrou maior espessura de massa cinzenta no córtex pré frontal e ínsula (áreas do cérebro envolvidas com o processamento de informações complexas). Além disso, os pesquisadores também viram que essas mulheres possuíam hipocampos maiores. O hipocampo é uma área ligada ao processamento da memória. Já o grupo com predominância de Prevotella mostrou ter mais conexões entre as regiões do cérebro responsáveis por emoções, atenção e sensações, além de menor volume cerebral em diversas regiões, como o hipocampo. O hipocampo das mulheres do grupo Prevotella também foi menos ativo quando elas eram expostas a imagens negativas e demonstravam mais sentimentos como ansiedade, stress e irritabilidade após olhar fotos com imagens negativas.
     Outro estudo, liderado por Jennifer Labus (também da Universidade da Califórnia) mostrou uma associação entre microbiota e emoções em pessoas portadoras da Síndrome do Intestino Irritável. Os resultados desse estudo sugerem que os sinais gerados pelo cérebro podem influenciar a composição da microbiota existente no intestino e os químicos gerados no intestino podem mudar a estrutura do cérebro. A coisa toda funciona como um círculo vicioso. 

     Além disso, eles descobriram que o gatilho para a mudança da flora intestinal na infância pode ser um trauma. Assim, essa nova microbiota causaria mudanças em áreas estruturais e funcionais do cérebro responsáveis por codificar informações relacionadas à sensibilidade do intestino. Maior sensibilidade do intestino é uma das características mais marcantes de portadores da Síndrome do Intestino Irritável.

Microbiota e o desenvolvimento do cérebro
     O que as fraldas sujas do seu bebê podem te dizer sobre o desenvolvimento cognitivo dele? 

     Um artigo publicado no periódico Biological Psychiatry respondeu essa pergunta mostrando que há associação entre o perfil de bactérias do intestino de crianças e o desenvolvimento cognitivo delas durante a infância. Os pesquisadores coletaram amostras de fezes de 89 crianças de um ano de idade e identificaram o perfil da microbiota intestinal através de análises genéticas dos microrganismos. As crianças foram dividas em três grupos com base na similaridade de microrganismos nos seus intestinos. Um ano depois, os pesquisadores aplicaram testes de desempenho cognitivos (Escalas de Mullende Aprendizagem Precoce) nessas crianças para avaliar habilidades motoras, perceptivas e desenvolvimento da fala. Novamente os Bacteroides tiveram destaque. As crianças com um maior número dessas bactérias do intestino tiveram os melhores índices nos testes. Os pesquisadores também tiveram uma surpresa ao descobrir que crianças com mais variabilidade de microrganismos no intestino obtiveram menores índices nos testes de desempenho cognitivos comparados com as crianças com menor variabilidade. Isso foi surpreendente, pois existem estudos mostrando que uma microbiota menos diversa na infância é associada com algumas doenças como diabetes tipo I e asma.
     Os pesquisadores tentam, agora, entender como se dá essa comunicação entre as bactérias do intestino e o cérebro. Eles estão avaliando algumas vias de sinalização que poderiam estar envolvidas ou se a comunidade de bactérias estaria funcionando como um mediador de outros processos que podem influenciar o desenvolvimento cerebral, como variação nos níveis de alguns nutrientes.

Microbiota e a imunidade
     Um grupo liderado por uma pesquisadora da Universidade da Califórnia demonstrou que moléculas chamadas microcinas, produzidas por uma cepa de bactéria que habita o intestino humano, pode bloquear certas bactérias patogênicas responsáveis por causar inflamação no intestino. Os cientistas viram que as microcinas não eram responsáveis diretamente por inibir o crescimento de cepas patogênicas, mas ela auxilia a bactéria não patogênica a limitar o crescimento da bactéria patogênica.

Como manter a microbiota saudável?

     Alguns alimentos possuem atividades prebióticas, ou seja, possuem algum nutriente não digerível e que estimula o metabolismo de alguma(s) bactéria(s) do trato intestinal. Por exemplo, cientistas descobriram que o cranberry possui um carboidrato, chamado xiloglucano, capaz de servir de nutriente para algumas cepas de Bifidobacterium. Eles também notaram que as bifidobactérias que eram capazes de metabolizar xiloglucanos produziam mais ácido fórmico e menos ácido lático (que é normalmente secretado por essas bactérias). Ainda não se sabe o efeito na saúde de uma produção maior de ácido fórmico no intestino O que se sabe é que ele baixa o pH do trato intestinal, assim como o ácido lático, e ainda é efetivo na inibição do crescimento de algumas cepas de E. coli e Salmonela.

     Para manter a microbiota diversa e ativa é importante ter uma alimentação saudável com muitas fibras. Algumas pessoas precisam de uma forcinha e podem utilizar probióticos. Probióticos são organismos vivos, como os Lactobacillus presentes nos leites fermentados, que, quando ingeridos numa concentração correta, exercem efeitos benéficos na manutenção e diversificação da microbiota intestinal. Nas crianças, amamentação com leite materno é uma das principais fontes que auxiliam na composição da microbiota intestinal.

Referências:


- www.sciencedaily.com/releases/2017/06/170629134241.htm

- https://microbiomejournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s40168-017-0260-z

- http://aem.asm.org/content/early/2017/06/26/AEM.01097-17

- www.sciencedaily.com/releases/2016/11/161103141616.htm

- www.sciencedaily.com/releases/2017/07/170717220613.htm

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Links para saber mais

     Descobertas recentes começam a esclarecer a base genética do comportamento dos animais na natureza com relação à socialização. Cientistas viram que encontros, mesmo que curtos, com um invasor faz com que aconteça uma cascata de mudanças na atividade gênica no cérebro de pequenos peixinhos da família Gasterosteidae que pode durar por até duas horas. Os cientistas analisaram a expressão gênica em regiões do cérebro desses animais após eles ficarem por 5 minutos com outro peixe no tanque. Esses peixinhos são territorialistas e os pesquisadores acreditam que as mudanças que aconteceram no DNA, que envolviam genes que contribuem com imunidade, secreção de hormônios, metabolismo e homeostase, seriam modificações para facilitar a resposta do animal em eventos futuros.

Fonte: www.sciencedaily.com/releases/2017/07/170717110440.htm
Artigo: http://journals.plos.org/plosgenetics/article?id=10.1371/journal.pgen.1006840#sec007

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Links para saber mais


Cientistas do National Institute of Mental Health implantaram uma sequência correspondente a um pequeno vídeo no genoma de bactérias utilizando Crispr. Após sequenciar o genoma da bactéria, foi possível rodar o vídeo. É a primeira vez que cientistas são capazes de armazenar – e recuperar – um vídeo em DNA de células vivas.
Os pesquisadores responsáveis planejam usar a técnica para registrar a história molecular do cérebro durante o desenvolvimento. Dessa maneira, os pesquisadores poderão ter os registros de eventos moleculares, como a mudança de expressão gênica ao longo do tempo, através do sequenciamento do genoma dessas células.

Assista ao vídeo:






Fonte:https://www.sciencedaily.com/releases/2017/07/170712145623.htm






terça-feira, 25 de julho de 2017

O dilema Crispr: é bom ou não é?

     Eu já falei sobre as vantagens da técnica Crispr-Cas9 (se você não leu, leia AQUI) e também já falei sobre as desvantagens (se você não leu, leia AQUI). Agora temos mais um capítulo nessa história que está parecendo novela mexicana. Cientistas estão dizendo que o paper que mostra as desvantagens da técnica, alegando que ela causa mais mutações que o esperado, teve várias falhas de execução.
     
     Para clarear sua memória, aqui vai um resumo dos fatos:
1- Cientistas descobriram a técnica Crispr-Cas 9 e ela passou a ser amplamente utilizada pois era uma técnica de edição de genes mais segura e mais barata que as outras existentes.
2- Cientistas foram capazes de utilizar essa técnica em diversos tratamentos contra câncer, cegueira, etc e ela se tornou a nova promessa da medicina genética.
3- Começam os estudos clínicos em seres humanos utilizando a Crispr-Cas 9 para edição de genes em portadores de câncer de pulmão.
4- Cientistas publicam um artigo na revista Nature comparando o genoma completo de duas cobaias: uma que recebeu o tratamento com Crispr-Cas 9 e outra controle. Segundo os resultados do paper, a cobaia que recebeu o tratamento com Crispr-Cas 9 teve uma série de mutações do tipo SNP. Eles alegaram que não foi notado nenhum defeito fisiológico no animal, mas alertaram para o uso da técnica indiscriminadamente.
5- Um outro grupo de cientistas pontuou uma série de falhas no paper da Nature. Eles estão exigindo que a revista e os pesquisadores responsáveis pelo artigo se retratem, pois as informações não estariam corretas. Segundo esse grupo de cientistas, o artigo que fala das mutações causadas pela Crispr-Cas 9 prejudicaria diversas outras pesquisas importantes que utilizam essa técnica.

     Até agora os cientistas responsáveis pelo artigo da Nature não se manifestaram, mas a revista já escreveu um alerta na página de download do artigo dizendo que está avaliando as críticas e que, assim que o corpo editorial tiver uma conclusão, esta será devidamente informada.

     Quem acompanha as informações e reportagens que saem sobre a Crispr-Cas 9 sabe que esta não é a primeira "briga" envolvendo essa técnica. Há um longo processo na justiça americana em que duas instituições estão brigando pela patente da nova técnica. A Broad Institute, que venceu a última batalha, ganhando o direito à patente, e a Universidade da Califórnia, que provavelmente irá recorrer da decisão.

     Nos resta acompanhar para não perder as cenas dos próximos capítulos.

Referências:
http://www.sciencealert.com/the-study-that-claimed-crispr-causes-unwanted-mutations-is-probably-wrong

http://www.biorxiv.org/content/early/2017/07/05/159707

O que é e como funciona a Crispr-Cas 9:  https://pingosdeciencia.blogspot.com.br/2016/10/crisprcas9.html

Possíveis efeitos colaterais:
https://pingosdeciencia.blogspot.com.br/2017/06/crisprcas-9-e-seus-efeitos-colaterais.html


segunda-feira, 24 de julho de 2017

Links para saber mais



A zika é transmitida principalmente por picadas do mosquito Aedes aegypti, mas já se conhece alguns casos em que houve transmissão sexual. Pesquisas mostram que o esperma pode funcionar como um reservatório do vírus até meses após a infecção, aumentando as chances de propagação da doença. Agora cientistas estão testando uma vacina que protege os testículos e o esperma contra os danos causados pelo zika vírus e impede a propagação através da relação sexual. A vacina já passou da primeira fase de testes. Essa fase é testada em animais e mostra se a vacina é segura e eficaz contra o vírus. Segundo os resultados, 100% dos animais vacinados ficaram protegidos.

Fonte: www.sciencedaily.com/releases/2017/07/170711125706.htm


Quer saber mais sobre o combate da zika e dengue? Clique AQUI

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Links para saber mais


     A habilidade dos cães de se comunicar e interagir pacificamente com os humanos é uma das principais diferenças entre eles e seus parentes próximos, os lobos. Cientistas publicaram nessa semana um estudo que mostra que esse comportamento tem base genética. Além disso, a região do DNA responsável por esse comportamento nos cães é a mesma associada à Síndrome de Williams-Beurem nos humanos, que é responsável, entre outras coisas, por desencadear comportamentos extremamente sociáveis, entusiásticos e de grande sensibilidade.

Artigo: Bridgett M. vonHoldt et al. Structural variants in genes associated with human Williams-Beuren Syndrome underlie stereotypical hyper-sociability in domestic dogs. Science Advances, 2017 DOI: 10.1126/sciadv.1700398


quarta-feira, 19 de julho de 2017

Até quando?

No início desse mês aconteceu a 41º reunião anual do Comitê do Patrimônio Mundial (World Heritage Committee). O comitê foi formado em 1972 em uma conferência da UNESCO, tem 21 países representantes que fazem parte do comitê por quatro ou seis anos cada. A função do comitê é implementar a Convenção do Patrimônio Mundial, definir aonde serão usados os recursos destinados à conservação dos Patrimônios Mundiais e dar assistência financeira mediante solicitações dos países componentes.
O que pode ser considerado Patrimônio Mundial?
A UNESCO considera dois tipos principais de patrimônio mundial:
-Patrimônio Mundial Cultural – São monumentos, grupos de construções ou lugares criados pelo homem e pela natureza (como sítios arqueológicos) de grande valor universal do ponto de vista histórico, científico ou antropológico. Como exemplos de patrimônios mundiais culturais temos, aqui no Brasil, o Plano Piloto de Brasília, as Missões Jesuíticas Guarani, Centro Histórico de Olinda e a Cidade Histórica de Ouro Preto, entre outros.
-Patrimônio Mundial Natural – São formações naturais (biológicas ou físicas) de grande valor universal do ponto de vista científico ou estético. Também podem ser formações geológicas que delimitam áreas ou constituem habitats de espécies ameaçadas de grande valor do ponto de vista científico ou de conservação. Aqui no Brasil, são patrimônios naturais o Parque Nacional do Iguaçu, Reservas da Mata Atlântica, Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, a ilha de Fernando de Noronha, entre outros.
Porque dar o título de Patrimônio Mundial?
Segundo a conferência da UNESCO que criou esse título e o comitê, Patrimônios Naturais e Culturais vivem sob ameaça de destruição intencional ou não através das mãos dos homens e também do desgaste causado pelo tempo. Ainda nessa mesma conferência, o desaparecimento de algum desses patrimônios seria uma enorme perda para todas as nações. Por conta disso, a UNESCO criou o comitê que coordena os fundos para preservação e proteção desses patrimônios.
Em teoria, um Patrimônio Mundial teria seu valor reconhecido e estaria protegido do desaparecimento. Em teoria! Vamos voltar à reunião do comitê que aconteceu esse ano. A IUCN (International Union for Conservation of Nature) revelou que dois terços dos 57 Patrimônios Naturais estão sob ameaça por conta da pesca e caça ilegais e exploração de madeira. Duas dessas áreas foram recomendadas, pela IUCN, para adentrar na lista de Patrimônios Naturais em perigo: As ilhas do México e as Áreas Protegidas doGolfo da Califórnia. Esses dois locais fazem parte do habitat da vaquita. A vaquita é a menor espécie de golfinho e se encontra em perigo de extinção iminente por conta da pesca ilegal praticada no seu habitat natural. Atualmente só existem 30 vaquitas em habitat natural. Trinta! A pesca tem por objetivo uma espécie de peixe do gênero Totoaba, também ameaçado de extinção, que possui um alto valor no mercado chinês. Ambas espécies são endêmicas dessa região, ou seja, não são encontradas naturalmente em outros lugares. Listar essas regiões como Patrimônios Naturais em perigo é o último esforço para mobilizar ações urgentes de proteção e combate a atividades ilegais. 
Figura 1: Vaquita, a menor espécie de golfinho está criticamente ameaçada de extinção pela pesca ilegal.
Outros dois Patrimônios também foram citados pela IUCN durante a reunião: As Florestas Tropicais de Madagascar de Atsinanana (já listada nos Patrimônios Naturais em perigo) e a Floresta de Białowieża situada entre a Polônia e Belarus.
As Florestas de Atsinanana compreendem seis parques nacionais distribuídos por Madagascar e são de extrema importância para a manutenção dos processos ecológicos necessários para a sobrevivência da biodiversidade única de Madagascar. Por ser uma ilha separada a muito tempo do continente, a biodiversidade de Madagascar é única e rara. De 80 a 90% dos grupos de animais e plantas existentes ali são endêmicos. A floresta sofre há tempos com a exploração de madeira e a caça de lêmures. A recomendação da IUCN é que essas Florestas permaneçam na lista de patrimônios ameaçados e que haja uma cooperação internacional para lidar com as ameaças.
A Floresta de Białowieża ingressou na lista de Patrimônio Mundial em 1979 e graças aos esforços de proteção, tem se mantido, em grande parte, em seu estado natural. Estima-se que algumas das suas árvores tenham 400 anos de idade. Além disso, é um dos poucos lugares da Europa que abrigam bisões selvagens. Segundo a IUCN, a exploração de madeiras de crescimento lento, como carvalhos, está impactando severamente a floresta.
E o que não faz parte do Patrimônio Mundial?
Se Patrimônios Mundiais já estão pedindo socorro, o que resta aos lugares que não tem esse título? Resta pouco. Também esse mês, foi publicado na PNAS um estudo com pesquisadores da Universidade de Stanford e do México que mapearam a redução de habitat de mais de 27 mil espécies de aves, mamíferos, anfíbios e reptéis e avaliaram os efeitos cascata que as extinções desses grupos irão causar. Segundo os autores, estamos no sexto evento de extinção em massa e o pior depois da extinção dos dinossauros.
Figura 2: Gráfico mostrando a porcentagem das espécies ameaçadas e não ameaçadas em cada grupo. Ceballos et al., 2017.
O que está sendo feito?
Reuniões são feitas, lideres mundiais assinam tratados (ou “DESassinam”), recursos são alocados, pesquisas são feitas e os dados são apresentados, mas o que falta para a destruição acabar? Falta empatia, segundo Gerardo Ceballos, autor do estudo publicado na PNAS citado anteriormente. Ele diz que “a perda massiva de populações e espécies reflete a nossa falta de empatia com todas as espécies selvagens que tem nos acompanhado desde as nossas origens”. Você não precisa ser pesquisador, membro da IUCN, naturalista, ecologista ou estar por dentro de todas as pesquisas da área, mas todos precisamos avaliar nossos hábitos e os impactos que eles causam. Pequenas ações importam. Até quando você não vai se preocupar?


Referências:

www.sciencedaily.com/releases/2017/06/170630105018.htm

http://www.pnas.org/content/early/2017/07/05/1704949114

http://whc.unesco.org/en/conventiontext/

http://whc.unesco.org/?cid=31&l=en&&


terça-feira, 18 de julho de 2017

Links para saber mais

     Pamela Maher, uma cientista do Laboratório de Neurobiologia Celular do Instituto Salk, encontrou evidências que um composto natural do morango (fisetina) reduz deficit cognitivo e inflamação associada com a idade em ratos. Segundo a equipe, essa substância pode ajudar a tratar distúrbios relacionados com a idade como Alzheimer ou derrame.


     Bonobos são macacos que vivem nas florestas na África Central. São muito conhecidos por serem pacíficos e viverem em uma sociedade baseada no “amor livre”. Por causa disso, cientistas achavam que a taxa de paternidade era semelhante entre os machos de cada grupo. Acontece que, aparentemente, fêmeas de bonobos tem gostos bem parecidos. Num dos grupos estudados, pesquisadores viram que somente um dos machos (chamado de Brad Pitt(!)bonobo) era pai de mais de 60% da próxima geração de filhotes. O que os cientistas querem agora é descobrir o que leva a essa preferência das fêmeas numa sociedade em que elas são livres para escolher. 

     Aqui no Brasil também temos espécies que são pacíficas e vivem numa sociedade sem dominância. Os muriquis são macacos que vivem (no que resta) na Mata atlântica.
Para saber mais dos muriquis: http://www.promuriqui.org.br/

     Fight like a ... tomato(!)

     Pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison investigaram a estratégia de defesa utilizada por plantas de tomate em resposta ao ataque por lagartas. Os tomates (assim como outras plantas) expelem um químico que faz as lagartas, que são herbívoras, transformarem-se em canibais.
Os resultados foram publicados no periódico Nature Ecology and Evolution: DOI: 10.1038/s41559-017-0231-6

Acesse os links e saiba mais sobre esses assuntos!

sexta-feira, 14 de julho de 2017

O balanço entre envelhecimento e câncer

Sabe aquele pedacinho de plástico na ponta do cadarço? Esse pedacinho de plástico, chamado agulheta ou ponteira, é o responsável por manter a integridade do cadarço. Pois bem, nosso DNA também possui uma “ponteira” com o mesmo objetivo. Eles são chamados de telômeros. Os telômeros são complexos de DNA e proteína localizados no final dos cromossomos lineares. O DNA, nessas regiões, é formado por sequências de repetições de nucleotídeos. Nos seres humanos, a sequência dos telômeros é TTAGGG, ou seja, duas timinas, uma adenina e três guaninas. Essa sequência pode se repetir milhares de vezes.
Os telômeros foram descobertos na década de 30, antes mesmo de se conhecer a estrutura do DNA. HermannMuller (Nobel 1946) e BarbaraMcClintock (Nobel 1983) descobriram que as pontas dos cromossomos se comportavam de maneira diferente. Somente em 1975, Liz Blackburn descobriu que os telômeros eram compostos de repetições de sequências de DNA. E, em 1984, a aluna de Liz, Carol W. Greider, descobriu a telomerase. Ambas dividiram o nobel de medicina em 2009, juntamente com Jack W. Szostak, pelas suas descobertas sobre os telômeros. Pela quantidade de prêmios Nobel aos envolvidos, você pode desconfiar que os telômeros são importantes.
Mas como uma sequência de nucleotídeos pode proteger o nosso DNA?
Para entender isso, primeiro temos que entender como funciona a replicação do DNA. A primeira coisa que precisamos saber é que enzima responsável por fazer a cópia da fita de DNA é a DNA polimerase. Ela tem duas características que eu gostaria de ressaltar para vocês: (1) Ela não é capaz de iniciar a cópia sem a ajuda de um pedaço de DNA já replicado (primer) e (2) ela replica o DNA no sentido 5’-3’ (se você não sabe o que isso significa, clique aqui). O fato de ela replicar o DNA no sentido 5’-3’ vai fazer com que uma das fitas de DNA seja replicada de maneira contínua e a outra, de maneira descontínua. O desenho abaixo exemplifica isso.
Figura 1: Sentido da replicação do DNA - 5'-3'.
Após a replicação, os fragmentos da fita descontínua são ligados gerando uma fita de DNA intacto, a não ser, pelo último pedaço, pois a DNA polimerase não vai ter onde ligar.
Figura 2: Final do cromossomo não replicado por conta da característica da DNA polimerase.
Se essa porção terminal fizesse parte de um gene, essa característica da DNA polimerase causaria a perda de pedaços do gene a cada replicação, impedindo o funcionamento correto deste. Mas a natureza e a evolução foram sábias e, ao invés de ter genes no final dos cromossomos, temos os telômeros. Com isso, a cada replicação do DNA, ou seja, a cada duplicação celular, um pedaço de telômero é perdido, mas isso não interfere na integridade do cromossomo, nem no funcionamento de genes. Além disso, ainda nos primórdios do descobrimento dos telômeros, também foi descoberta uma enzima, a telomerase (uma RNA polimerase) que adiciona repetições perdidas. Nem sempre esse mecanismo é perfeito e, mesmo com essa enzima, os telômeros diminuem ao longo da vida do organismo. Quando um cromossomo perde os telômeros, a célula não é mais replicada e morre. Por isso dizemos que os telômeros são uma medida de senescência das células e do organismo.
Além da proteção da integridade de genes durante a replicação, os telômeros também formam uma estrutura tridimensional impedindo que as pontas dos cromossomos se liguem umas às outras e impedindo que o sistema de reparo de DNA “conserte” a ponta solta achando que é uma quebra cromossômica. Esse mecanismo é tão importante que, na década de 70, quando Jack W. Szostak tentava criar cromossomos artificiais de leveduras sem adicionar telômeros, pois ele não os conhecia, os cromossomos se degradavam rapidamente.
Mas e o câncer, onde entra nessa história?
Carol W. Greider, a mesma que descobriu a telomerase, juntamente com Calvin Harley, confirmaram que os telômeros de células humanas se comportavam da mesma maneira que os telômeros da levedura Tetrahymena (usada como modelo nas pesquisas sobre telômeros). Eles também viram que a causa do encurtamento dos telômeros ao longo da vida era a diminuição da expressão de telomerase. Com isso em mente, eles escreveram dois artigos: o primeiro mostrando que se a telomerase é expressa nas células pra sempre, os telômeros não encurtam e as células não mostram sinais de senescência. O segundo artigo faz a ligação entre essa descoberta e o câncer, indicando que se a telomerase for inibida em células cancerígenas, isso poderia limitar o crescimento do tumor. Isso foi confirmado em 1994 por Nick Hastie. Apesar disso, mais tarde foi demonstrado que, com a perda dos telômeros nas células cancerígenas, os cromossomos poderiam sofrer rearranjos e isso poderia ser “combustível” para o crescimento dos tumores.
Os primeiros resultados relacionando câncer e telômeros chamaram a atenção da comunidade científica e médica. Tanto que, a partir de 1994, o número de artigos citando a telomerase disparou como mostra o gráfico abaixo.
Figura 3: Gráfico mostrando o aumento de artigos envolvendo telomerase a partir de 1994.
Após tantas pesquisas, foram descobertas diversas proteínas que fazem parte do complexo de telômeros. Não só no seu arranjo tridimensional, mas também proteínas auxiliares da telomerase. Além disso, também foram descobertas outras doenças ligadas a problemas com a telomerase e os telômeros, por exemplo a disqueratose congênita.
Ainda há muita coisa para se descobrir a respeito de telômeros, telomerase e toda a maquinaria envolvida. O esforço dos cientistas para descobrir técnicas de nos fazer viver mais e melhor e ainda curar doenças é incrível, mas qual é o limite? Seria ético se no futuro pudéssemos tomar uma pílula que fizesse nossa telomerase ser expressa pra sempre como se tivéssemos 20 anos? Qual o impacto de não envelhecermos?

Referências:








segunda-feira, 10 de julho de 2017

Links para saber mais

Alguns assuntos são muito interessantes, mas nem sempre eu posso escrever sobre todos. Por conta disso, deixo para vocês uma série de links para vocês explorarem.


Cheirar sua comida pode fazer você engordar. Ratos que perderam o sentido olfatório ficaram mais magros, mesmo numa dieta com grande proporção de gordura, enquanto os ratos com olfato normal engordaram.


Você sabe de onde vem a vodka? E sabe quem foi A responsável pela descoberta? Eva Ekeblad foi uma agrônoma e cientista, além de ser a primeira mulher a integrar a Acadêmia Real de Ciências da Suécia. Ela foi a primeira mulher a fazer farinha e álcool de batatas. Graças à ela, as batatas se popularizaram na Suécia e começaram a ser mais utilizadas na produção de álcool ao invés de cereais (trigo, centeio e cevada). Com isso, sobrava mais cereais para produzir alimentos, o que diminuiu a fome na região.
 região.


Um grande estudo canadense sobre mudança climática no Ártico teve que ser cancelado devido à mudança climática.😕


quarta-feira, 5 de julho de 2017

Estratégias para redução de epidemias causadas por insetos- Zika e Dengue em foco.

As duas maiores epidemias do Brasil atualmente –Dengue e Zika – são objeto de grande preocupação para quem trabalha com saúde pública. O vírus da dengue (que em 2016 afetou mais de 1,5 milhões de pessoas) e o vírus da zika (que teve mais de 200 mil casos registrados em 2016) são transmitidos pelo mesmo vetor: o mosquito Aedes aegypti. Atualmente nenhuma das duas doenças possui vacina e a única forma de prevenção é não ser picado por mosquitos contaminados. As vacinas para ambas as doenças estão sendo testadas, mas ainda estamos longe de podermos contar com elas. Com isso, para tentar aplacar os números monstruosos de doentes, só resta aos promotores de saúde pública criar políticas para diminuir o número de mosquitos (a população é responsável por fazer a sua parte também, óbvio).
Figura 1: Mosquito Aedes aegypti por Raul Santana / Multimagens / Fiocruz
O pequeno organismo denominado Aedes aegypti é originário do Egito, na África. Ele foi descrito em 1762, mas somente passou a ter o nome atual em 1818. Essa espécie é extremamente adaptável, podendo colonizar diversos ambientes e assim vem fazendo desde o século XVI, sendo carregado principalmente por navios que traficavam escravos. De carona com o mosquito, vieram também os vírus que ele pode incubar (pesquisadores estimam que ele possa ser vetor de até 17 vírus*). Os primeiros casos de dengue foram registrados no Brasil no século XIX, em Curitiba. Apesar disso, a grande preocupação da época era outro vírus que este mosquito transmitia: o vírus da febre amarela. Por conta da epidemia de febre amarela (não só no Brasil, mas em todo continente americano), diversos programas de erradicação foram desenvolvidos. No Brasil, o primeiro programa de controle do mosquito começou em 1920 com Oswaldo Cruz, mas o programa responsável pela erradicação desse organismo, em 1955, foi o programa coordenado pela Organização Pan-Americana de Saúde e pela Organização Mundial de Saúde.
Apesar de ter sido erradicado do Brasil, não é novidade pra ninguém que o A. aegypti está de volta e mais forte que nunca. Portanto, campanhas de controle e erradicação continuam sendo criadas e ainda mantemos a esperança que o que aconteceu em 1955, aconteça novamente. Pensando nisso, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz estão testando o impacto de A. aegypti contaminados por uma bactéria que diminuiria a fertilidade nesses organismos e atuaria no controle da infecção dos vírus por eles disseminados. A bactéria utilizada é do gênero Wolbachia. Esse gênero de bactérias atua como endosimbionte em artrópodes e alguns nematódeos.
A ideia de infectar mosquitos com Wolbachia para controle de população não é tão nova. Há alguns anos já se sabe que essa bactéria tem influência na fertilidade dos mosquitos. Ela induz uma anormalidade reprodutiva conhecida como incompatibilidade endoplasmática, que resulta na morte precoce do embrião quando machos infectados com Wolbachia cruzam com fêmeas não infectadas (ou que estão infectadas com outra cepa de Wolbachia). Além disso, quando um macho infectado cruza com uma fêmea infectada pela mesma cepa, o embrião consegue se desenvolver normalmente e toda a prole estará infectada com Wolbachia. Essa estratégia garante que mosquitos infectados tenham mais sucesso reprodutivo que mosquitos não infectados. Mas porque queremos mosquitos infectados por Wolbachia? Porque foi demonstrado que algumas cepas dessa bactéria diminuiriam a replicação viral, disseminação e transmissão do vírus da dengue por esses mosquitos. Dependendo da cepa, ela age de maneira diferente para controlar o vírus. Uma delas, chamada porcorn, induz a morte precoce do mosquito após a infecção deste pelo vírus da dengue. Já outras cepas aumentam a imunidade dos mosquitos, impedindo a infecção pelo vírus da dengue.
Falamos bastante da relação entre dengue e Wolbachia e é importante salientar que essa bactéria impede a proliferação do vírus da Zika da mesma maneira. Já existem diversos trabalhos mostrando isso, e muitos deles são produzidos aqui no Brasil. Só esse ano, a ONU liberou verbas para 17 centros de pesquisas envolvendo Zika vírus e sete desses centros estão no Brasil. Não é só a área acadêmica que está trabalhando muito por conta dessa epidemia. Instituições de apoio, principalmente à mulher, estão fazendo um ótimo trabalho em relação aos casos de microcefalia causados pelo Zika vírus.
Figura 2: O esquema mostra a diminuição da infecção de Zika no mosquito infectado por Wolbachia. Dutra HLC, et al.

Em abril desse ano, a Fundação Oswaldo Cruz liberou mais uma leva de mosquitos infectados por Wolbachia no município de Niterói (RJ). Isso já vem acontecendo desde 2012 em algumas regiões do estado do RJ. Apesar disso, em 2015 houve aumento no número de casos em praticamente todas as regiões do RJ. Segundo especialistas, esse aumento se dá por conta da descontinuidade das atividades de vigilância epidemiológica que são interrompidas nos estados e municípios. É necessário ter uma constância no controle do mosquito, pois caso contrário, as doenças continuarão aumentando. Esse alerta vale não só para as autoridades, mas para a população em geral que é parte fundamental desse controle. Eliminar os focos de água parada (não só água limpa, pois o mosquito já consegue se reproduzir em água suja) é um gesto de extrema importância, com resultados excelentes e só depende de você.
 *Apesar de poder ser vetor de 17 vírus, ele não pode carregar mais de um por vez. Então se o mosquito está infectado com o vírus da dengue, ele não tem o vírus da zika. (http://infograficos.estadao.com.br/cidades/aedes-aegypti-emergencia-internacional/doencas.php).

Referências: