quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Afinal, cerveja faz bem ou não?

E para comemorar o dia do início da Oktoberfest aqui no Brasil, nada melhor do que um texto falando da paixão nacional: Cerveja!

Vamos aos fatos. O brasileiro bebe muita cerveja (eu, inclusive), mas quanto exatamente? A média do consumo de cerveja no Brasil é de 82 litros por pessoa por ano. Atualmente ocupamos o 17º lugar no consumo de cerveja mundial. Apesar de, em 2015, a produção de cerveja industrial ter caído 20% - por conta da crise e pelo aumento no consumo de cervejas artesanais – a indústria cervejeira ainda tem um grande impacto na economia. Com a geração de 2,2 milhões de empregos e de R$ 21 bilhões de impostos arrecadados por ano, a indústria não faz só a alegria do povo, mas também a alegria do governo. Atualmente o setor cervejeiro no Brasil é dominado por três gigantes: Ambev, Heineken e Grupo Petrópolis. Apesar disso, só em 2015 (no auge da crise), o setor de cervejas especiais, dominado por pequenas cervejarias, teve uma alta de 36% nas vendas.

Agora vamos passar para a biologia porque aqui não é um blog de economia. Biologicamente falando, a cerveja faz bem ou faz mal? Bom, depende. Por ser uma substância que contém álcool, obviamente abusar da cerveja não faz bem e pode levar ao desenvolvimento de dependência e outros males. Mas usando com moderação (assim como tudo na vida) vários estudos mostram que a cerveja pode fazer bem sim.

Por exemplo, um estudo de 2010 avaliou o conteúdo de silício em cervejas. Segundo os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos a ingestão de silício é importante para o crescimento e desenvolvimento dos ossos e do tecido conjuntivo. O estudo do Departamento de Ciência Alimentar e Tecnologia da Universidade da Califórnia mostrou que o silício presente nas cervejas tem alta biodisponibilidade, ou seja, nosso corpo é capaz de aproveitar o nutriente da forma como ele é apresentado. Por conta desse fato, os pesquisadores chegaram a conclusão de que a cerveja é a maior fonte de silício presente na dieta ocidental atualmente. O estudo ainda mostra que as cervejas com base de cevada tem maior quantidade de silício do que aquelas com base de trigo. Isso porque uma boa parte do silício é encontrada na casca da cevada. O lúpulo, por sua vez, é o ingrediente da cerveja que mais contém silício, mas dependendo do tipo de cerveja, ela pode ter pouco lúpulo na sua composição. Em geral, cervejas mais amargas possuem maior quantidade de lúpulo. Levando em conta todos os resultados, alguns pesquisadores já sugerem a ingestão moderada de cerveja por pessoas que sofrem de osteoporose.

Um estudo mais recente, de 2017, mostrou que um componente presente na cevada maltada e na cerveja ativa um receptor específico de dopamina provocando uma sensação de bem-estar e recompensa gerada pela comida. Esse estudo, conduzido na Alemanha (claro!) analisou computacionalmente 13 mil componentes de comidas e fontes naturais para entender como esse mecanismo de recompensa pela comida é modulado. Para você entender melhor, esse mecanismo é chamado de fome hedônica. É aquela sensação de felicidade que alguns alimentos proporcionam fazendo com que não consigamos parar de comer, mesmo não estando com fome. Essa sensação de felicidade é gerada quando o neurotransmissor dopamina é ligado ao receptor D2. Então o que os pesquisadores tinham em mente era descobrir alimentos ou outros produtos naturais que conseguissem, assim como a dopamina, se ligar ao receptor D2 e gerar essa sensação de felicidade. No final da análise de 13 mil substâncias, os cientistas chegaram à 17 compostos que eram capazes de se ligar ao receptor D2. Esses 17 compostos foram analisados em laboratório e o mais promissor deles foi a hordenina. Hordenina é um composto presente em cevada maltada e, consequentemente, em cerveja. Além de ser capaz de se ligar ao receptor D2, a hordenina utiliza uma rota bioquímica diferente que potencialmente leva a um efeito de prazer mais prolongado em comparação com a dopamina. O próximo passo é analisar se os índices de hordenina presentes na cerveja são suficientes para gerar essa sensação de felicidade. Pra quem adora uma cervejinha, esse ponto já está respondido.

Além desses estudos, existe uma série de outros que mostram os benefícios para a saúde de compostos fenólicos e fitoquímicos presente em cereais utilizados para a produção cervejeira. Assim como o vinho, que também possui diversos componentes benéficos, é importante ressaltar que cerveja contém álcool e pode gerar prejuízos. Além dos malefícios como problemas do fígado, o álcool também causa confusão mental, dependência e uma série de problemas. Então a palavra aqui é moderação. Beber com moderação e segurança (não vai dirigir depois de uma noitada na oktoberfest) além de ser prazeroso, pode trazer benefícios para a saúde. Então prost!

Referências:

O consumo de cerveja no Brasil. Inovare Pesquisas.

Drinking Beer Could Be Good For Your Bones, Study. Medical News Today.

Troy R. Casey and Charles W. Bamforth. Silicon in Beer and Brewing. Journal of the Science of Food and Agriculture Published Online: February 8, 2010 (DOI: 10.1002/JSFA.3884);

Beer can lift your spirits due to malted barley ingredient. ScienceDaily.

Thomas Sommer, Harald Hübner, Ahmed El Kerdawy, Peter Gmeiner, Monika Pischetsrieder, Timothy Clark. Identification of the Beer Component Hordenine as Food-Derived Dopamine D2 Receptor Agonist by Virtual Screening a 3D Compound Database. Scientific Reports, 2017; 7: 44201 DOI: 10.1038/srep44201

Nenhum comentário:

Postar um comentário