O cenário está mudando. Pouco a pouco diversos países tem mudado a
maneira como tratam usuários de drogas (vamos esquecer por um breve momento
como o prefeito de SP tratou os usuários da cracolândia essa semana) e a
maneira como veem as drogas. No início desse mês, a ANVISA mudou o Denominação
Comum Brasileira (DCB) da Cannabis, passando a considerá-la como planta
medicinal. Para evitar confusões, segundo a própria ANVISA, esse fato não é o
reconhecimento da Cannabis como planta medicinal (Hein?). A inclusão da
Cannabis no DCB como planta medicinal não implica reconhecê-la como tal,
somente indica que ela tem potencial para ser uma planta medicinal (através de
pesquisas) ou pode ser importada como planta medicinal ou utilizada como insumo
farmacêutico que receba essa nomenclatura (confuso, mas ok).
O caminho ainda está sendo percorrido lentamente, mas é fato que nos últimos
anos tem existido mais visibilidade sobre questões de legalização, uso de
drogas, tratamentos, pesquisas, etc. Só no Brasil, por exemplo, desde 2015, a ANVISA
vem tomando medidas que facilitam a importação, uso e prescrição de
medicamentos a base de canabidiol. Ainda está longe de ser o cenário ideal, mas
estamos chegando lá. A área de pesquisa também se beneficia com todo o debate. Além
de a importação de substâncias derivadas da maconha ficar cada vez menos
burocrática, as pessoas começam a entender e perder um pouco do preconceito em
relação ao uso terapêutico da droga. Esse ano, a USP de Ribeirão Preto,
anunciou o primeiro centro de pesquisas em canabidiol do Brasil. Além desse
centro, ainda existem pesquisadores de outras universidades (UNB, UNIFESP,
UFRGS por exemplo) estudando efeitos terapêuticos de substâncias extraídas da
maconha. Segundo pesquisadores da área, o Brasil está se tornando referência em
pesquisa no tema.
Para além da maconha, também foi publicado esse mês o estudo anual da
Global Drug Survey (GDS) com mais de 115 mil questionários analisados. GDS é
uma companhia de pesquisa independente que tem por objetivo tornar o uso de drogas
mais seguro, independente da questão da legalização. Para isso, eles fornecem
informações baseadas em pesquisas com indivíduos, comunidade, organizações de
saúde e policiais. Todo ano eles publicam uma pesquisa que mostra como o mundo
das drogas está se modificando, questões de segurança e tendências de uso de
novas drogas. Esse ano, o Global Drug Survey 2017 utilizou dados de 25 países
para compor uma análise sobre diversos aspectos das drogas. Segundo os dados,
79% dos entrevistados já utilizaram drogas ilegais e mais de 99% já usaram
drogas legalizadas. As drogas mais utilizadas foram álcool (98,7%), seguida
pela Cannabis (77,8%) e tabaco (63,1%). Segundo o GDS, a metanfetamina foi a droga
que mais causou atendimentos médicos após o uso, ao passo que cogumelos
alucinógenos foi a que teve menos registro de problemas médicos após o uso. Com
uma linguagem simples, clara e leve, eles explicam os resultados da pesquisa e
dão dicas para o uso mais seguro. Um dos tópicos abordados foi a porcentagem de
pessoas que gostariam de usar menos determinada droga e quantas dessas pessoas
precisariam de ajuda para realizar essa tarefa. O objetivo do GDS não é somente a
pesquisa, mas através dos dados adquiridos, eles produzem diversos guias que auxiliam o
usuário a utilizar drogas de maneira mais segura, além de indicar possíveis
problemas de dependência e como resolvê-los.
Ainda estamos longe de poder tratar esse tema de maneira imparcial e
livre de preconceitos, mas pesquisas como a da GDS e das universidades
brasileiras ajudam a desmistificar e trazem informações de qualidade que dão
base ao debate. Usuários terapêuticos, recreativos e sociedade como um todo só
tem a ganhar com essa discussão.
Referências:
-RDC Nº 156 de maio de 2017.
Inclui a Cannabis na lista de plantas medicinais.
-http://portal.anvisa.gov.br/rss/-/asset_publisher/Zk4q6UQCj9Pn/content/id/3401316
-http://g1.globo.com/bemestar/noticia/anvisa-inclui-cannabis-sativa-em-lista-de-plantas-medicinais.ghtml
-http://jornal.usp.br/universidade/usp-tera-primeiro-centro-de-pesquisa-em-canabidiol-do-pais/
-http://istoe.com.br/364676_MACONHA+MEDICINAL+NO+BRASIL/
-https://www.revide.com.br/editorias/novidade/pesquisas-em-canabinoides-49/
-https://www.globaldrugsurvey.com/