Bom, pra começo de conversa, vamos falar que o ganhador do prêmio esse ano foi um BIÓLOGO! Quem disse que biólogos não ganham dinheiro? É só ganhar o Nobel. Enfim, vamos ao que interessa: o que fez esse prestigioso colega de profissão ganhar esse que é um dos maiores prêmios da ciência? Ele estudou o processo conhecido com autofagia e descobriu diversos genes envolvidos.
Autofagia é basicamente um
processo de reciclagem celular. Nesse processo, proteínas, lipídios,
carboidratos e até organelas inteiras são degradadas. Em 1992, quando Ohsumi
publicou seu primeiro artigo a respeito disso, já se conheciam os lisossomos e
se sabia que existiam rotas de degradação de proteínas através do lisossomo e
sem a participação deste. O que não se sabia eram os detalhes de como
acontecia, o que acontecia dentro dos vacúolos (representantes dos lisossomos
nas leveduras), quais proteínas ou genes eram responsáveis por esse processo, qual
a proporção de degradação vacuolar no processo de turnover de proteínas e o que estimulava esse processo. Todas essas
perguntas foram respondidas em um único artigo sensacional publicado pelo
Ohsumi em 1992. Ele não só desvendou boa parte do processo, como também
desenvolveu um protocolo para trabalhar não só com leveduras, mas com outros
tipos de células.
O que já se sabia? Que
algumas enzimas tinham um papel chave na degradação vacuolar das leveduras e
que privação de alguns nutrientes possivelmente aumentava a quantidade de
degradação de proteínas. Com essas informações, Ohsumi conseguiu montar um
experimento no qual ele expunha algumas linhagens de levedura a privação de
nutrientes e verificava se havia acúmulo de materiais no vacúolo.
Ele utilizou uma série de
diferentes meios de cultura deficientes em nitrogênio ou aminoácidos
específicos e verificou diferenças na formação de vacúolos. O meio com
deficiência de nitrogênio era onde havia maior formação de vacúolos. Em alguns
casos, após 3 horas, os vacúolos estavam tão cheios que já não era possível
verificar movimento dentro deles (figura 1).
Na avaliação microscópica
desses vacúolos, foi visto que o conteúdo era basicamente o mesmo do citoplasma
da levedura envolto em uma membrana mais fina que a de qualquer outra organela.
A dedução foi que esses organismos poderiam sequestrar o conteúdo
citoplasmático e evolve-lo com uma membrana. A conclusão foi que os corpos
dentro dos vacúolos foram formados através de um processo que ele denominou
autofagia. Esses corpos foram então denominados corpos autofágicos.
Foi verificado que tanto
deficiência em nitrogênio, quanto em carboidratos resultavam em acúmulo de
conteúdo nos vacúolos, mas com algumas diferenças morfológicas.
E após uma série de
experimentos com diferentes bloqueadores enzimáticos, eles perceberam que uma
das principais enzimas responsável pela degradação do conteúdo vacuolar era a
proteinase B.
E o que tudo isso afinal tem
de tão interessante e importante para ganhar um Nobel? É que a descoberta de
detalhes desse mecanismo celular levou a descobertas de novos medicamentos para
o tratamento de câncer, Alzheimer, Parkinson, Huntington, entre outras.
Diversos laboratórios vem tentando descobrir e aperfeiçoar técnicas para
induzir a autofagia (o que diminuiria o avanço de doenças causadas pelo acúmulo
de proteínas na célula, como Alzheimer) ou diminuir em determinadas células
(células cancerígenas, por exemplo, que tem algum defeito no processo
autofágico são mais propensas a morte celular – apoptose). Existem diversos
laboratórios que trabalham com esse assunto aqui no Brasil (inclusive um do meu
antigo professor Guido Lenz na UFRGS). Grandes descobertas ainda vem por ai,
mas tudo começou a andar com mais força graças ao ganhador do prêmio Nobel de
fisiologia ou medicina, o BIÓLOGO Yoshinori
Ohsumi.
Referências:
Referências Brasileiras:
Nenhum comentário:
Postar um comentário