Nós estamos acostumados a não pensar em nós mesmos como animais por diversos motivos. Por conta disso, tendemos a imaginar que não compartilhamos determinados comportamentos e características com outros animais. Por exemplo, você já deve ter se surpreendido com um cão, gato, pássaro ou até mesmo um macaco desempenhando alguma tarefa relacionada a resolução de problemas. Ou ainda, você já deve ter conhecido cães da mesma raça com temperamentos completamente diferentes. Para os cães, que fazem parte da nossa rotina (mesmo que você não tenha um) é fácil imaginar que eles tenham diferentes personalidades, mas você já imaginou peixes ou mesmo aranhas com personalidades diferentes?
No caso dos peixes, não fomos somente nós que nunca imaginamos que eles tivessem uma gama de personalidades (eu confesso que nunca pensei em peixes dessa maneira). Cientistas da Universidade de Exeter, no Reino Unido, também não faziam ideia de que um peixe que conhecemos aqui no Brasil como barrigudinho (
Poecilia reticulata) poderia demostrar comportamentos complexos na época em que começaram o estudo. Os cientistas começaram os testes de comportamentos a fim de dividir os indivíduos em dois grupos: aqueles que evitavam riscos e aqueles que encaravam riscos. O que eles acabaram encontrando foi uma variação entre indivíduos que não poderia ser traduzida de maneira tão simples. Por exemplo, num dos testes, os pesquisadores avaliavam o comportamento dos animais expostos a um ambiente novo. Alguns indivíduos se escondiam, outros tentavam escapar, outros exploravam o local e assim por diante. Uma das coisas importantes que os pesquisadores notaram foi que as diferenças entre os indivíduos eram consistentes, ou seja, os que eram mais exploradores continuavam mais exploradores independente da situação (a menos que fosse uma situação de extremo perigo na qual a maioria dos indivíduos agia de maneira similar). Por conta desse resultado, os pesquisadores agora planejam estudar se esses comportamentos tem base genética.
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Fonte: http://www.guiadospeixes.com/peixe-barrigudinho/peixe-barrigudinho-agua-doce/ |
Já outro grupo de cientistas, da Universidade Nacional de Singapura, estudou o comportamento de aranhas da espécie
Portia labiata. Novamente os cientistas foram surpreendidos pelos resultados. Em primeiro lugar, eles avaliaram a agressividade dos indivíduos de aranhas. Após separá-las em agressivas e “dóceis”, os cientistas colocavam as aranhas numa situação em que elas deveriam tomar uma decisão. O que eles viram foi que as aranhas mais agressivas tomavam decisões mais rapidamente e, surpreendentemente, as decisões rápidas eram tão acuradas quanto as decisões lentas. Esse comportamento é o contrário do que ocorre no ser humano, por exemplo, já que estudos mostram que quando tomamos decisões rapidamente, tendemos a tomar decisões erradas.
Depois de ler esses resultados eu provavelmente não vou mais me surpreender com alguns comportamentos dos meus cachorros.
Referências:
Thomas M. Houslay, Maddalena Vierbuchen, Andrew J. Grimmer, Andrew J. Young, Alastair J. Wilson. Testing the stability of behavioural coping style across stress contexts in the Trinidadian guppy. Functional Ecology, 2017; DOI:
10.1111/1365-2435.12981.
Fish have surprisingly complex personalities: Tiny fish called Trinidadian guppies have individual 'personalities,' new research shows. ScienceDaily.
Chia-chen Chang, Pangilinan J. Ng, Daiqin Li. Aggressive jumping spiders make quicker decisions for preferred prey but not at the cost of accuracy. Behavioral Ecology, 2016; arw174 DOI:
10.1093/beheco/arw174.
Aggressive spiders are quick at making accurate decisions, better at hunting unpredictable preys. ScienceDaily.