No início desse mês aconteceu a 41º reunião anual do
Comitê do Patrimônio Mundial (World Heritage Committee). O comitê foi formado
em 1972 em uma conferência da UNESCO, tem 21 países representantes que fazem
parte do comitê por quatro ou seis anos cada. A função do comitê é implementar a Convenção do Patrimônio
Mundial, definir aonde serão usados os recursos destinados à conservação dos
Patrimônios Mundiais e dar assistência financeira mediante solicitações dos
países componentes.
O que pode ser
considerado Patrimônio Mundial?
A UNESCO considera dois tipos principais de
patrimônio mundial:
-Patrimônio Mundial Cultural – São monumentos, grupos
de construções ou lugares criados pelo homem e pela natureza (como sítios
arqueológicos) de grande valor universal do ponto de vista histórico,
científico ou antropológico. Como exemplos de patrimônios mundiais culturais
temos, aqui no Brasil, o Plano Piloto de Brasília, as Missões Jesuíticas
Guarani, Centro Histórico de Olinda e a Cidade Histórica de Ouro Preto, entre
outros.
-Patrimônio Mundial Natural – São formações naturais
(biológicas ou físicas) de grande valor universal do ponto de vista científico
ou estético. Também podem ser formações geológicas que delimitam áreas ou
constituem habitats de espécies ameaçadas de grande valor do ponto de vista
científico ou de conservação. Aqui no Brasil, são patrimônios naturais o Parque
Nacional do Iguaçu, Reservas da Mata Atlântica, Parque Nacional do Pantanal
Matogrossense, a ilha de Fernando de Noronha, entre outros.
Porque dar o
título de Patrimônio Mundial?
Segundo a conferência da UNESCO que criou esse título
e o comitê, Patrimônios Naturais e Culturais vivem sob ameaça de destruição
intencional ou não através das mãos dos homens e também do desgaste causado
pelo tempo. Ainda nessa mesma conferência, o desaparecimento de algum desses
patrimônios seria uma enorme perda para todas as nações. Por conta disso, a
UNESCO criou o comitê que coordena os fundos para preservação e proteção desses
patrimônios.
Em teoria, um Patrimônio Mundial teria seu valor
reconhecido e estaria protegido do desaparecimento. Em teoria! Vamos voltar à
reunião do comitê que aconteceu esse ano. A IUCN (International Union for
Conservation of Nature) revelou que dois terços dos 57 Patrimônios Naturais
estão sob ameaça por conta da pesca e caça ilegais e exploração de madeira.
Duas dessas áreas foram recomendadas, pela IUCN, para adentrar na lista de
Patrimônios Naturais em perigo: As ilhas do México e as Áreas Protegidas doGolfo da Califórnia. Esses dois locais fazem parte do habitat da vaquita. A
vaquita é a menor espécie de golfinho e se encontra em perigo de extinção
iminente por conta da pesca ilegal praticada no seu habitat natural. Atualmente
só existem 30 vaquitas em habitat natural. Trinta! A pesca tem por objetivo uma
espécie de peixe do gênero Totoaba, também ameaçado de extinção, que possui um
alto valor no mercado chinês. Ambas espécies são endêmicas dessa região, ou
seja, não são encontradas naturalmente em outros lugares. Listar essas regiões
como Patrimônios Naturais em perigo é o último esforço para mobilizar ações urgentes
de proteção e combate a atividades ilegais.
Figura 1: Vaquita, a menor espécie de golfinho está criticamente ameaçada de extinção pela pesca ilegal. |
Outros dois Patrimônios também foram citados pela IUCN durante a
reunião: As Florestas Tropicais de Madagascar de Atsinanana (já listada nos
Patrimônios Naturais em perigo) e a Floresta de Białowieża situada entre a Polônia e Belarus.
As Florestas de Atsinanana compreendem
seis parques nacionais distribuídos por Madagascar e são de extrema importância
para a manutenção dos processos ecológicos necessários para a sobrevivência da
biodiversidade única de Madagascar. Por ser uma ilha separada a muito tempo do
continente, a biodiversidade de Madagascar é única e rara. De 80 a 90% dos
grupos de animais e plantas existentes ali são endêmicos. A floresta sofre há
tempos com a exploração de madeira e a caça de lêmures. A recomendação da IUCN
é que essas Florestas permaneçam na lista de patrimônios ameaçados e que haja
uma cooperação internacional para lidar com as ameaças.
A Floresta de Białowieża ingressou na lista de Patrimônio Mundial em 1979 e graças aos
esforços de proteção, tem se mantido, em grande parte, em seu estado natural.
Estima-se que algumas das suas árvores tenham 400 anos de idade. Além disso, é
um dos poucos lugares da Europa que abrigam bisões selvagens. Segundo a IUCN, a
exploração de madeiras de crescimento lento, como carvalhos, está impactando severamente
a floresta.
E o que não faz parte do Patrimônio Mundial?
Se Patrimônios Mundiais já estão pedindo
socorro, o que resta aos lugares que não tem esse título? Resta pouco. Também
esse mês, foi publicado na PNAS um estudo com pesquisadores da Universidade de
Stanford e do México que mapearam a redução de habitat de mais de 27 mil
espécies de aves, mamíferos, anfíbios e reptéis e avaliaram os efeitos cascata
que as extinções desses grupos irão causar. Segundo os autores, estamos no
sexto evento de extinção em massa e o pior depois da extinção dos dinossauros.
Figura 2: Gráfico mostrando a porcentagem das espécies ameaçadas e não ameaçadas em cada grupo. Ceballos et al., 2017. |
O que está sendo feito?
Reuniões são feitas, lideres mundiais
assinam tratados (ou “DESassinam”), recursos são alocados, pesquisas são feitas
e os dados são apresentados, mas o que falta para a destruição acabar? Falta empatia,
segundo Gerardo Ceballos, autor do estudo publicado na PNAS citado
anteriormente. Ele diz que “a perda massiva de populações e espécies reflete a
nossa falta de empatia com todas as espécies selvagens que tem nos acompanhado
desde as nossas origens”. Você não precisa ser pesquisador, membro da IUCN,
naturalista, ecologista ou estar por dentro de todas as pesquisas da área, mas
todos precisamos avaliar nossos hábitos e os impactos que eles causam. Pequenas
ações importam. Até quando você não vai se preocupar?
Referências:
www.sciencedaily.com/releases/2017/06/170630105018.htm
http://www.pnas.org/content/early/2017/07/05/1704949114
http://whc.unesco.org/en/conventiontext/
http://whc.unesco.org/?cid=31&l=en&&
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