sexta-feira, 28 de julho de 2017

Os superpoderes da sua microbiota intestinal

     O que a sua microbiota intestinal (conhecida antigamente como flora intestinal) tem a ver com seu humor, o desenvolvimento do seu cérebro ou sua imunidade? A reposta é: muito. Há algum tempo atrás não havia muito interesse nas bactérias que povoam nosso intestino, apesar de saber que elas trazem benefícios para a nossa saúde como auxiliares na síntese de algumas proteínas, absorção de nutrientes e ainda limitam ou impedem o crescimento de patógenos perigosos para nossa saúde. Mas de uns três anos pra cá, a microbiota virou assunto da moda e atualmente existem um sem fim de estudos que demonstram que ela está envolvida com uma série de funções no nosso organismo.

Microbiota e suas emoções
     Pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram que as bactérias do intestino podem interagir com regiões do cérebro responsáveis pelo humor e certos tipos de comportamento. Os pesquisadores estudaram amostras fecais de 40 mulheres cruzando informações do perfil de bactérias do intestino com respostas a estímulos cerebrais. Através da composição da microbiota, eles dividiram essas mulheres em dois grupos: um grupo com predominância de Bacteroides (33 mulheres) e outro com predominância de Prevotella (7 mulheres). O grupo com maior predominância de Bacteroides mostrou maior espessura de massa cinzenta no córtex pré frontal e ínsula (áreas do cérebro envolvidas com o processamento de informações complexas). Além disso, os pesquisadores também viram que essas mulheres possuíam hipocampos maiores. O hipocampo é uma área ligada ao processamento da memória. Já o grupo com predominância de Prevotella mostrou ter mais conexões entre as regiões do cérebro responsáveis por emoções, atenção e sensações, além de menor volume cerebral em diversas regiões, como o hipocampo. O hipocampo das mulheres do grupo Prevotella também foi menos ativo quando elas eram expostas a imagens negativas e demonstravam mais sentimentos como ansiedade, stress e irritabilidade após olhar fotos com imagens negativas.
     Outro estudo, liderado por Jennifer Labus (também da Universidade da Califórnia) mostrou uma associação entre microbiota e emoções em pessoas portadoras da Síndrome do Intestino Irritável. Os resultados desse estudo sugerem que os sinais gerados pelo cérebro podem influenciar a composição da microbiota existente no intestino e os químicos gerados no intestino podem mudar a estrutura do cérebro. A coisa toda funciona como um círculo vicioso. 

     Além disso, eles descobriram que o gatilho para a mudança da flora intestinal na infância pode ser um trauma. Assim, essa nova microbiota causaria mudanças em áreas estruturais e funcionais do cérebro responsáveis por codificar informações relacionadas à sensibilidade do intestino. Maior sensibilidade do intestino é uma das características mais marcantes de portadores da Síndrome do Intestino Irritável.

Microbiota e o desenvolvimento do cérebro
     O que as fraldas sujas do seu bebê podem te dizer sobre o desenvolvimento cognitivo dele? 

     Um artigo publicado no periódico Biological Psychiatry respondeu essa pergunta mostrando que há associação entre o perfil de bactérias do intestino de crianças e o desenvolvimento cognitivo delas durante a infância. Os pesquisadores coletaram amostras de fezes de 89 crianças de um ano de idade e identificaram o perfil da microbiota intestinal através de análises genéticas dos microrganismos. As crianças foram dividas em três grupos com base na similaridade de microrganismos nos seus intestinos. Um ano depois, os pesquisadores aplicaram testes de desempenho cognitivos (Escalas de Mullende Aprendizagem Precoce) nessas crianças para avaliar habilidades motoras, perceptivas e desenvolvimento da fala. Novamente os Bacteroides tiveram destaque. As crianças com um maior número dessas bactérias do intestino tiveram os melhores índices nos testes. Os pesquisadores também tiveram uma surpresa ao descobrir que crianças com mais variabilidade de microrganismos no intestino obtiveram menores índices nos testes de desempenho cognitivos comparados com as crianças com menor variabilidade. Isso foi surpreendente, pois existem estudos mostrando que uma microbiota menos diversa na infância é associada com algumas doenças como diabetes tipo I e asma.
     Os pesquisadores tentam, agora, entender como se dá essa comunicação entre as bactérias do intestino e o cérebro. Eles estão avaliando algumas vias de sinalização que poderiam estar envolvidas ou se a comunidade de bactérias estaria funcionando como um mediador de outros processos que podem influenciar o desenvolvimento cerebral, como variação nos níveis de alguns nutrientes.

Microbiota e a imunidade
     Um grupo liderado por uma pesquisadora da Universidade da Califórnia demonstrou que moléculas chamadas microcinas, produzidas por uma cepa de bactéria que habita o intestino humano, pode bloquear certas bactérias patogênicas responsáveis por causar inflamação no intestino. Os cientistas viram que as microcinas não eram responsáveis diretamente por inibir o crescimento de cepas patogênicas, mas ela auxilia a bactéria não patogênica a limitar o crescimento da bactéria patogênica.

Como manter a microbiota saudável?

     Alguns alimentos possuem atividades prebióticas, ou seja, possuem algum nutriente não digerível e que estimula o metabolismo de alguma(s) bactéria(s) do trato intestinal. Por exemplo, cientistas descobriram que o cranberry possui um carboidrato, chamado xiloglucano, capaz de servir de nutriente para algumas cepas de Bifidobacterium. Eles também notaram que as bifidobactérias que eram capazes de metabolizar xiloglucanos produziam mais ácido fórmico e menos ácido lático (que é normalmente secretado por essas bactérias). Ainda não se sabe o efeito na saúde de uma produção maior de ácido fórmico no intestino O que se sabe é que ele baixa o pH do trato intestinal, assim como o ácido lático, e ainda é efetivo na inibição do crescimento de algumas cepas de E. coli e Salmonela.

     Para manter a microbiota diversa e ativa é importante ter uma alimentação saudável com muitas fibras. Algumas pessoas precisam de uma forcinha e podem utilizar probióticos. Probióticos são organismos vivos, como os Lactobacillus presentes nos leites fermentados, que, quando ingeridos numa concentração correta, exercem efeitos benéficos na manutenção e diversificação da microbiota intestinal. Nas crianças, amamentação com leite materno é uma das principais fontes que auxiliam na composição da microbiota intestinal.

Referências:


- www.sciencedaily.com/releases/2017/06/170629134241.htm

- https://microbiomejournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s40168-017-0260-z

- http://aem.asm.org/content/early/2017/06/26/AEM.01097-17

- www.sciencedaily.com/releases/2016/11/161103141616.htm

- www.sciencedaily.com/releases/2017/07/170717220613.htm

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