O que a sua microbiota intestinal (conhecida antigamente como flora
intestinal) tem a ver com seu humor, o desenvolvimento do seu cérebro ou sua
imunidade? A reposta é: muito. Há algum tempo atrás não havia muito interesse nas
bactérias que povoam nosso intestino, apesar de saber que elas trazem
benefícios para a nossa saúde como auxiliares na síntese de algumas proteínas,
absorção de nutrientes e ainda limitam ou impedem o crescimento de patógenos
perigosos para nossa saúde. Mas de uns três anos pra cá, a microbiota virou
assunto da moda e atualmente existem um sem fim de estudos que demonstram que
ela está envolvida com uma série de funções no nosso organismo.
Microbiota e suas
emoções
Pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram
que as bactérias do intestino podem interagir com regiões do cérebro
responsáveis pelo humor e certos tipos de comportamento. Os pesquisadores
estudaram amostras fecais de 40 mulheres cruzando informações do perfil de
bactérias do intestino com respostas a estímulos cerebrais. Através da
composição da microbiota, eles dividiram essas mulheres em dois grupos: um
grupo com predominância de Bacteroides (33 mulheres) e outro com predominância de Prevotella (7 mulheres). O grupo com maior predominância
de Bacteroides mostrou maior espessura de massa cinzenta no córtex pré frontal e ínsula (áreas do
cérebro envolvidas com o processamento de informações complexas). Além disso, os
pesquisadores também viram que essas mulheres possuíam hipocampos maiores. O
hipocampo é uma área ligada ao processamento da memória. Já o grupo com
predominância de Prevotella mostrou ter mais conexões entre as regiões do
cérebro responsáveis por emoções, atenção e sensações, além de menor volume
cerebral em diversas regiões, como o hipocampo. O hipocampo das mulheres do
grupo Prevotella também foi menos ativo quando elas eram expostas a imagens
negativas e demonstravam mais sentimentos como ansiedade, stress e
irritabilidade após olhar fotos com imagens negativas.
Outro estudo, liderado por Jennifer Labus (também da
Universidade da Califórnia) mostrou uma associação entre microbiota e emoções
em pessoas portadoras da Síndrome do Intestino Irritável. Os resultados desse estudo sugerem que os sinais
gerados pelo cérebro podem influenciar a composição da microbiota existente no
intestino e os químicos gerados no intestino podem mudar a estrutura do
cérebro. A coisa toda funciona como um círculo vicioso.
Além disso, eles descobriram que o gatilho para a mudança da
flora intestinal na infância pode ser um trauma. Assim, essa nova microbiota
causaria mudanças em áreas estruturais e funcionais do cérebro responsáveis por
codificar informações relacionadas à sensibilidade do intestino. Maior sensibilidade do intestino é uma das
características mais marcantes de portadores da Síndrome do Intestino
Irritável.
Microbiota e o
desenvolvimento do cérebro
O que as fraldas sujas do seu bebê podem te dizer sobre o
desenvolvimento cognitivo dele?
Um artigo publicado no periódico Biological
Psychiatry respondeu essa pergunta mostrando que há associação entre o perfil
de bactérias do intestino de crianças e o desenvolvimento cognitivo delas
durante a infância. Os pesquisadores coletaram amostras de fezes de 89 crianças
de um ano de idade e identificaram o perfil da microbiota intestinal através de
análises genéticas dos microrganismos. As crianças foram dividas em três grupos
com base na similaridade de microrganismos nos seus intestinos. Um ano depois,
os pesquisadores aplicaram testes de desempenho cognitivos (Escalas de Mullende Aprendizagem Precoce) nessas crianças para avaliar habilidades motoras,
perceptivas e desenvolvimento da fala. Novamente os Bacteroides tiveram
destaque. As crianças com um maior número dessas bactérias do intestino tiveram
os melhores índices nos testes. Os pesquisadores também tiveram uma surpresa ao
descobrir que crianças com mais variabilidade de microrganismos no intestino
obtiveram menores índices nos testes de desempenho cognitivos comparados com as
crianças com menor variabilidade. Isso foi surpreendente, pois existem estudos
mostrando que uma microbiota menos diversa na infância é associada com algumas
doenças como diabetes tipo I e asma.
Os pesquisadores tentam, agora, entender como se dá essa
comunicação entre as bactérias do intestino e o cérebro. Eles estão avaliando
algumas vias de sinalização que poderiam estar envolvidas ou se a comunidade de
bactérias estaria funcionando como um mediador de outros processos que podem
influenciar o desenvolvimento cerebral, como variação nos níveis de alguns
nutrientes.
Microbiota e a imunidade
Um grupo liderado por uma pesquisadora da Universidade da
Califórnia demonstrou que moléculas chamadas microcinas, produzidas por uma
cepa de bactéria que habita o intestino humano, pode bloquear certas bactérias
patogênicas responsáveis por causar inflamação no intestino. Os cientistas
viram que as microcinas não eram responsáveis diretamente por inibir o
crescimento de cepas patogênicas, mas ela auxilia a bactéria não patogênica a
limitar o crescimento da bactéria patogênica.
Como manter a
microbiota saudável?
Alguns alimentos possuem atividades prebióticas, ou seja, possuem algum nutriente não digerível e que estimula o metabolismo de alguma(s) bactéria(s) do trato intestinal. Por exemplo, cientistas descobriram que o cranberry possui um carboidrato, chamado xiloglucano, capaz de servir de nutriente para algumas cepas de Bifidobacterium. Eles também notaram que as bifidobactérias que eram capazes de metabolizar xiloglucanos produziam mais ácido fórmico e menos ácido lático (que é normalmente secretado por essas bactérias). Ainda não se sabe o efeito na saúde de uma produção maior de ácido fórmico no intestino O que se sabe é que ele baixa o pH do trato intestinal, assim como o ácido lático, e ainda é efetivo na inibição do crescimento de algumas cepas de E. coli e Salmonela.
Para manter a microbiota diversa e ativa é importante ter
uma alimentação saudável com muitas fibras. Algumas pessoas precisam de uma
forcinha e podem utilizar probióticos. Probióticos são organismos vivos, como
os Lactobacillus presentes nos leites fermentados, que, quando ingeridos numa
concentração correta, exercem efeitos benéficos na manutenção e diversificação
da microbiota intestinal. Nas crianças, amamentação com leite materno é uma das
principais fontes que auxiliam na composição da microbiota intestinal.
Referências:
- www.sciencedaily.com/releases/2017/06/170629134241.htm
- https://microbiomejournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s40168-017-0260-z
- http://aem.asm.org/content/early/2017/06/26/AEM.01097-17
- www.sciencedaily.com/releases/2016/11/161103141616.htm
- www.sciencedaily.com/releases/2017/07/170717220613.htm
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