terça-feira, 17 de outubro de 2017

Porque existem componentes do leite materno que os bebês não conseguem digerir?

O título desse texto é "Porque existem componentes do leite materno que os bebês não conseguem digerir?", mas poderia facilmente se chamar "No corpo humano tudo tem um propósito". Isso porque cientistas da Universidade da Califórnia estão terminando um trabalho (que será publicado possivelmente em março de 2018) mostrando que componentes não digeríveis do leite materno tem uma função protetora para o bebê. Esse trabalho mostra o porquê de o leite materno ser repleto de oligossacarídeos complexos que são totalmente indigestos para os bebês. A real função desses componentes é na verdade servir de fonte de alimento para um grupo de bactérias chamadas bifidobacterium infantis.








Mas porque essas bactérias são importantes?







Elas são importantes porque, durante a gestação, o corpo do bebê está em um ambiente estéril. Assim que o bebê nasce, ele é exposto a uma porção de bactérias, algumas patogênicas outras não. Enquanto o sistema imunológico da criança ainda não está preparado para lidar com todas essas novidades, bactérias não patogênicas entram em cena para proteger o corpo. Uma das bactérias que desempenham esse papel é a bifidobacterium infantis. Ela forma uma camada protetora no intestino do bebê, impedindo a colonização de bactérias patogênicas e protegendo a criança de doenças graves.

Para você ter noção da importância do aleitamento materno e dessas bactérias protetoras do intestino, bebês que nascem prematuros e que, por algum motivo, não recebem aleitamento materno tem muita dificuldade em formar uma microbiota intestinal adequada. Por conta disso, muitas vezes o intestino desses bebês são colonizados por bactérias patogênicas causando um problema grave que é a enterocolite necrosante. Essa condição causa lesões nas camadas do intestino permitindo que haja contaminação por bactérias na corrente sanguínea. Em média, 85% dos casos de enterocolite necrosante ocorrem em recém nascidos prematuros e por isso esse artigo que relaciona os componentes do leite materno com a criação de uma microbiota intestinal protetora é tão importante. Não só, cada vez mais se ressalta a importância do aleitamento materno sempre que possível como também esse estudo vai permitir um olhar e um tratamento diferente para bebês prematuros e, dessa maneira, aumentar as chances de sobrevivência.

Referências:
Cientistas desvendam por que leite materno tem moléculas de açúcar que bebês não digerem. BBC.

Enterocolite necrosante.

Artigo (ainda não está publicado, mas é possível ler o resumo):
Kirmiz, N., R. C. Robinson, I. M. Shah, D. Barile and D. A. Mills. 2017. Milk glycans and their interaction with the infant gut microbiota. Annual Review in Food Science & Technology (In Press).

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