Um grupo de pesquisadores do Canadá conseguiu associar problemas no desenvolvimento neurológico com abusos sofridos durante a infância. Abuso infantil é um problema de saúde pública que afeta de 5% a 15% das crianças ocidentais. Evidências clínicas e epidemiológicas mostram que problemas na infância aumentam o risco de vida, estresse relacionado a problemas psiquiátricos, depressão, suicídio, entre outros. Apesar disso, até agora não existiam estudos que avaliassem características celulares, epigenéticas ou morfológicas de cérebros de pessoas que sofreram abusos na infância.O estudo, publicado no periódico The American Journal of Psychiatry em julho deste ano, analisou, entre outras coisas, a mielinização (revestimento de células nervosas que faz com que os sinais elétricos no cérebro sejam conduzidos de maneira mais eficiente) de três grupos de indivíduos. Importante ressaltar que a análise ocorreu no cérebro de indivíduos que já haviam morrido. Os três grupos eram (1) pessoas que cometeram suicídio e tinham sofrido abuso infantil, (2) pessoas que cometeram suicídio, mas não tinham relatos de abuso e (3) pessoas que morreram de outras causas que não suicídio e não tinham relato de abuso infantil.
O que os pesquisadores descobriram foi que a camada de mielina era significativamente reduzida somente nas pessoas com histórico de abuso infantil. Eles também viram alterações moleculares que afetavam células responsáveis pela geração e manutenção da mielina. Além disso, foi visto um aumento no diâmetro de alguns axônios. A conclusão é que essas alterações, juntas, possam ser responsáveis por uma falha de conexão entre estruturas como a amígdala e o núcleo accumbens (áreas do cérebro ligadas à regulação emocional e à recompensa e satisfação) e, dessa maneira, contribuir para uma alteração no processamento de emoções em pessoas que sofreram abusos durante a infância. Agora os pesquisadores pretendem descobrir onde, no cérebro, quando, durante o desenvolvimento, e como, a nível molecular, esses efeitos são suficientes para causar impacto na regulação das emoções.
Disque Criança: 0800 2829996
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República: 100
Disque-Denúncia: 2253 1177
Referências:
Pierre-Eric Lutz, Arnaud Tanti, Alicja Gasecka, Sarah Barnett-Burns, John J. Kim, Yi Zhou, Gang G. Chen, Marina Wakid, Meghan Shaw, Daniel Almeida, Marc-Aurele Chay, Jennie Yang, Vanessa Larivière, Marie-Noël M’Boutchou, Léon C. van Kempen, Volodymyr Yerko, Josée Prud’homme, Maria Antonietta Davoli, Kathryn Vaillancourt, Jean-François Théroux, Alexandre Bramoullé, Tie-Yuan Zhang, Michael J. Meaney, Carl Ernst, Daniel Côté, Naguib Mechawar, Gustavo Turecki. Association of a History of Child Abuse With Impaired Myelination in the Anterior Cingulate Cortex: Convergent Epigenetic, Transcriptional, and Morphological Evidence. American Journal of Psychiatry, 2017; appi.ajp.2017.1 DOI: 10.1176/appi.ajp.2017.161112.Child abuse affects brain wiring: Impaired neural connections may explain profound and long-lasting effects of traumatic experiences during childhood. ScienceDaily.
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