quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Links para saber mais - Abuso infantil e o desenvolvimento do cérebro

Um grupo de pesquisadores do Canadá conseguiu associar problemas no desenvolvimento neurológico com abusos sofridos durante a infância. Abuso infantil é um problema de saúde pública que afeta de 5% a 15% das crianças ocidentais. Evidências clínicas e epidemiológicas mostram que problemas na infância aumentam o risco de vida, estresse relacionado a problemas psiquiátricos, depressão, suicídio, entre outros. Apesar disso, até agora não existiam estudos que avaliassem características celulares, epigenéticas ou morfológicas de cérebros de pessoas que sofreram abusos na infância.

O estudo, publicado no periódico The American Journal of Psychiatry em julho deste ano, analisou, entre outras coisas, a mielinização (revestimento de células nervosas que faz com que os sinais elétricos no cérebro sejam conduzidos de maneira mais eficiente) de três grupos de indivíduos. Importante ressaltar que a análise ocorreu no cérebro de indivíduos que já haviam morrido. Os três grupos eram (1) pessoas que cometeram suicídio e tinham sofrido abuso infantil, (2) pessoas que cometeram suicídio, mas não tinham relatos de abuso e (3) pessoas que morreram de outras causas que não suicídio e não tinham relato de abuso infantil.

O que os pesquisadores descobriram foi que a camada de mielina era significativamente reduzida somente nas pessoas com histórico de abuso infantil. Eles também viram alterações moleculares que afetavam células responsáveis pela geração e manutenção da mielina. Além disso, foi visto um aumento no diâmetro de alguns axônios. A conclusão é que essas alterações, juntas, possam ser responsáveis por uma falha de conexão entre estruturas como a amígdala e o núcleo accumbens (áreas do cérebro ligadas à regulação emocional e à recompensa e satisfação) e, dessa maneira, contribuir para uma alteração no processamento de emoções em pessoas que sofreram abusos durante a infância. Agora os pesquisadores pretendem descobrir onde, no cérebro, quando, durante o desenvolvimento, e como, a nível molecular, esses efeitos são suficientes para causar impacto na regulação das emoções.

Depois desse texto, achei importante deixar telefones para denúncia em caso de abuso infantil:
Disque Criança: 0800 2829996
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República: 100
Disque-Denúncia: 2253 1177


Referências:
Pierre-Eric Lutz, Arnaud Tanti, Alicja Gasecka, Sarah Barnett-Burns, John J. Kim, Yi Zhou, Gang G. Chen, Marina Wakid, Meghan Shaw, Daniel Almeida, Marc-Aurele Chay, Jennie Yang, Vanessa Larivière, Marie-Noël M’Boutchou, Léon C. van Kempen, Volodymyr Yerko, Josée Prud’homme, Maria Antonietta Davoli, Kathryn Vaillancourt, Jean-François Théroux, Alexandre Bramoullé, Tie-Yuan Zhang, Michael J. Meaney, Carl Ernst, Daniel Côté, Naguib Mechawar, Gustavo Turecki. Association of a History of Child Abuse With Impaired Myelination in the Anterior Cingulate Cortex: Convergent Epigenetic, Transcriptional, and Morphological Evidence. American Journal of Psychiatry, 2017; appi.ajp.2017.1 DOI: 10.1176/appi.ajp.2017.161112.

Child abuse affects brain wiring: Impaired neural connections may explain profound and long-lasting effects of traumatic experiences during childhood. ScienceDaily.

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